Pesquisadores franceses avaliam o impacto do aquecimento climático sobre peixes de água doce

O consenso internacional sobre a realidade das mudanças climáticas é agora evidente: o aquecimento global é imputável, em grande parte, às atividades humanas, provocando uma rápida deterioração do ambiente e é uma ameaça cada vez maior à biodiversidade. No entanto, os mecanismos de seu impacto ainda são pouco conhecidos, especialmente no ambiente aquático.

No CEMAGREF (Institut de Recherche pour l’Ingénierie de l’Agriculture et de l ‘environnement), dois pesquisadores, que, ao longo das últimas duas décadas, analisaram as populações de peixes de água doce, observaram mudanças profundas nestas populações, mudanças que são mais intensas e duradouras do que previsto. Por Henrique Cortez*, do EcoDebate.

O aquecimento global, cujos impactos foram demonstradas desde os anos 1980 e 1990, influencia o funcionamento dos ecossistemas mundiais, bem como a estrutura e a diversidade das comunidades de plantas e animais. O IPCC, Intergovernmental Panel on Climate Change (grupo de especialistas internacionais sobre as mudanças climáticas), em seu ultimo relatório, em setembro de 2007, afirma que a temperatura global deverá aumentar de 1,4-5,8 ° C, de agora até o ano 2100.

Este fenômeno acrescenta uma pressão sobre o ambiente, que se tornará cada vez mais intensa, ao longo do tempo e deve ser tida em conta no planejamento da gestão sustentável dos recursos e dos ecossistemas. No entanto, o seu impacto e a possível influência dos efeitos de outros fatores não climáticos ainda continuam difíceis de determinar.

Dois pesquisadores CEMAGREF, Martin Daufresne e Philippe Boet, estudaram os efeitos desse fenômeno sobre ambientes aquáticos e particularmente sobre os peixes comunidades residentes nos rios franceses. Alterações no número, dimensão e representatividade das espécies pescadas foram observadas por aproximadamente 20 anos. Os pescadores acreditam que os peixes capturados hoje já não são os mesmos de antes. Novas espécies que vivem em águas quentes ou mais ao sul da França, estão substituindo, gradualmente, as espécies tradicionalmente pescadas.

Com uma análise em grande escala, combinando os dados coletados em diversos rios, em várias regiões, ao longo de 15 ou 20 anos, os pesquisadores identificaram um forte impacto do aquecimento global sobre a estrutura das comunidades de peixe. Os peixes de água doce de águas mais quentes aumentaram sua presença nos rios franceses de 20% para 50%, entre 1979 e 2004.

Considerando que um grande número de peixes pequenos tende a tornar-se predominante no seio das comunidades, os grandes peixes, mais sensíveis ao aumento da temperatura e modificações do ecossistema, tendem a desaparecer aos poucos. No entanto, esta mudança é acompanhada por uma queda na biodiversidade mundial. Um grande número de peixes é distribuído dentro de um crescente número limitado de espécies.

Em grandes rios, os peixes também podem ser submetidos à fatores não climáticos, tais como o aquecimento da água em razão de barragens ou centrais nucleares, que podem influenciar as grandes mudanças identificadas no âmbito das comunidades aquáticas.

De acordo com os dados recolhidos, o impacto, a partir destas fontes, parece ser bastante limitada, em relação às tendências observadas. Por outro lado, as barragens, agindo como barreiras, podem controlar a migração de espécies do sul para o norte.

Em um contexto de crescente aquecimento, a falta de um fluxo de peixes provenientes do sul, como tem sido observado nestas áreas com barreiras, naturais ou por barragens, poderia ser prejudicial para o atual processo de renovação e, posteriormente, reduzindo o número e variedade de espécies, abalando a biodiversidade de grandes rios.

Embora a pesquisa tenha sido realizada especificamente em relação a rios na França, os seus dados podem ser indicativos do que pode acontecer em outros paises ou regiões.

Climate change impacts on structure and diversity of fish communities in rivers. Global Change Biology, 2007.

Cemagref
centre d’Aix-en-Provence
Martin Daufresne
Tel. + 33 4 42 66 99 28 martin.daufresne@cemagref.fr

Cemagref
centre de Bordeaux
Philippe Boët
Tel. + 33 5 57 89 27 26 philippe.boet@cemagref.fr

* Com informações do CEMAGREF

[http://www.ecodebate.com.br/index.php/2008/11/17/pesquisadores-franceses-avaliam-o-impacto-do-aquecimento-climatico-sobre-peixes-de-agua-doce/, 17/11/2008]

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